Templo em chamas intolerância

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INCENDIO EM CENTRO ESPÍRITA FOI OBRA DE MILICIA RELIGIOSA
O fogo ateado à Casa do Mago, na Zona Sul do Rio, por dois homens nesta segunda-feira, nos levam à conclusão que uma milícia fundamentalista religiosa está em ação no Rio. A ação, flagrada por câmeras, comprova que os homens estavam em carros, munidos de gasolina, e agiram de forma organizada, com rotina paramilitar.
Sou autor do projeto – transformado em lei – que cria a Delegacia de Combate à Intolerância e que espera uma decisão dos agentes públicos estaduais para sua implantação, aliás, INADIÁVEL.
Não tenho a menor dúvida de que está em curso uma ação organizada por milícias religiosas formadas por fundamentalistas que nutrem ódio pelos espíritas, umbandistas, candomblecistas e até católicos.
As imagens mostram a ação de um homem encapuzado, que esvazia um galão com líquido inflamável na frente do imóvel, por volta das 23h, seguido por um outro, de boné, que ateia o fogo e chega ser atingido pelas chamas. Ubirajara Pinheiro, conhecido como Mago, estava sozinho no imóvel na hora do atentado e, momentos antes, havia ido até o portão se despedir dos últimos consulentes do dia. As segundas-feiras são destinadas às consultas gratuitas para a ajuda espiritual.
As imagens recuperadas mostram que a dupla chegou ao endereço cerca de meia hora antes, em um carro de luxo, e estacionou a poucos metros do local. No entanto, os homens só deixaram o veículo após avistarem o Mago.
Assustado, Pinheiro não conseguiu dormir após o ocorrido. Ele aposta que o crime foi motivado por intolerância religiosa e chegou a ir à 10ª DP, em Botafogo, para prestar a queixa-crime. Mas não conseguiu fazer ao ser desaconselhado por uma delegada, que afirmou que o incidente não seria uma prioridade para as autoridades naquele instante.
- Não conheço esses homens, mas aposto que quem encomendou devia estar dentro do carro. Isso é obra de intolerância religiosa. Todo dia tem gente de igreja panfletando aqui na porta, falando que aqui é coisa do diabo. As pessoas têm mania de achar que o demônio tem tridente, é vermelho, essas coisas, mas o demônio está em nós. Quem colocou fogo aqui não foi o diabo, foram dois homens, auxiliados por mais um, no carro - conta o religioso, que trabalha no local há 15 anos, e acrescenta: - Foi tentativa de homicídio, sabiam que eu estava na casa.
Kelly Pinheiro, filha do religioso, chegou minutos depois ao fogo ser controlado e também se queixa da atenção dada na Delegacia.
- Falaram para a gente voltar no dia seguinte, levando provas, porque já não havia mais perigo, que isso era coisa de intolerância religiosa, uma "coisa que acontece". Meu pai não conseguiu dormir a noite toda, ele tem 63 anos. Se o fogo se alastrasse aqui, meu pai não teria como sair e ainda atingiria os prédios vizinhos. Por muito pouco, como mostram as imagens, o fogo no portão não atingiu o carro aqui dentro. Se pegasse, imagina o tamanho da explosão e a extensão disso, porque estamos em meio a imóveis residenciais, com garagens. Ia ser algo muito, muito feio - queixa-se.
Agora, a partir das imagens coletadas, o Mago pretende abrir finalmente a queixa-crime na delegacia e contratar um perito particular capaz de identificar nas gravações a placa do carro que acompanhava os criminosos. Ele, que confessa não pretende voltar a dormir na Casa do Mago tão cedo, no entanto se nega a suspender as atividades do centro.
- Se eu suspender, vou estar recuando e eles vão ter conseguido o que queriam. Vai ser uma vitória para eles. Eu estou aqui há 15 anos, não temos problema nenhum com os vizinhos, é uma casa de acolhida, que ajuda as pessoas, onde falamos para todos eles para não procurar quem quer fazer o mal - relata o Mago.

Fonte:Átila Nunes Page